Desde 1998, quando comecei a trabalhar voluntariamente em uma Instituição do Estado de Minas Gerais que tinha o nome de FEBEM (FUNDAÇÃO ESTADUAL PARA O BEM ESTAR DO MENOR), iniciou minha experiência com as relações de doação e de troca. Eu trabalhava 2 vezes por semana com crianças que vivenciaram problemas familiares significativos e tiveram que ir morar nesta instituição até poderem retornar para suas famílias, serem adotadas ou completarem 18 anos. Talvez vocês conheçam esta instituição pelo nome de “orfanato”. Foi uma experiência muito rica e marcante, pois conhecer e entender as realidades dessas crianças, me fez aprender sobre as grandes diferenças sociais do nosso país.
Durante o tempo em que eu trabalhei como psicanalista em instituições e consultório, eu atendia voluntariamente ou recebia como pagamento, alguns produtos que os pacientes faziam. Então, trocávamos atendimentos por quadros, fotografias, esculturas, etc.
Por volta de 2010, eu comecei a participar mais ativamente de alguns movimentos de lutas sociais e, em um deles, nomeado de forma orgânica por “Fica Ficus”, fizemos alguns encontros na Avenida Bernardo Monteiro para discutir as ações de prevenção e cuidado para com os Fícus que estavam infestados por moscas brancas. Este movimento reuniu espontaneamente pessoas da sociedade civil, interessadas em entender e proteger os Fícus (espécie de árvore de grande porte que se encontra por toda a avenida, algumas já centenárias e que arborizam intensamente vários quarteirões). Várias ações foram definidas e alcançadas com o poder público (no caso, a Prefeitura) por causa dessa pressão e mobilização popular.
Através desse movimento, conheci pessoas relacionadas ao trabalho da Permacultura e Agrofloresta. Escolhi conhecer mais técnica e vivencialmente estes trabalhos e comecei a participar de várias experiências. Estas práticas acontecem por todo o país e pelo mundo. Podem ser trocas de trabalho voluntário por hospedagem e alimentação ou outros tipos de troca. Alguns dos lugares em que realizei estas vivências, trocas e mutirões foram: Quilombo de Camburi em Ubatuba/SP, coletivo e assentamento em São Carlos/SP, Instituto Arapoty em Itapecerica da Serra/SP, Instituto Pindorama em Nova Friburgo/RJ, Ecovida São Miguel em São Gonçalo do Rio das Pedras/MG, Instituto Flor de Ibez em Barra do Garças/MT, Instituto de Tecnologias Intuitivas e Bio-Arquitetura TIBÁ/RJ, Revolução dos Baldinhos e instituto indígena em Florianópolis/SC, Sítio Sementes em Brasília/DF, Ilha de Santiago, Ilha do Fogo e Ilha Brava em Cabo Verde (país do continente africano formado por 10 ilhas).
Na ilha de Santiago, fiquei na casa do pai da Gisseila, a doutoranda caboverdiana que esteve 2 vezes na Casa Viva, nos contando sobre os costumes do seu povo e fazendo conosco a Katxupa, prato tradicional de lá. Em Cabo Verde, fiz várias trocas, participando de trabalhos com o grupo de mulheres sobre ecofeminismo e agroecologia.
Frequentemente, participo de grupos de doações e trocas nas redes sociais. Na situação em que tive minha bicicleta roubada (montada com peças usadas), postei no meu perfil que procurava por outra usada para comprar ou trocar. Logo, logo, a mãe de uma aluna ofereceu a sua que já estava parada há tempos na garagem. Ela não queria vender. Preferia uma troca. Ela queria uma composteira no quintal. Assim, combinamos a montagem da composteira. E até hoje, a nossa bicicleta compartilhada me leva pelo mundo afora: BH, Sabará, Serra do Cipó, Raposos.
Continuo realizando doações e trocas nos mutirões de agroecologia, na ocupação urbana Espaço Comum Luiz Estrela e na escola Casa Viva, na qual trabalho em troca dos estudos do meu filho e da minha filha.
Todas as experiências são de extremo aprendizado e troca de conhecimento. Além da imensa alegria de conhecer pessoas e lugares que inspiram e alimentam o desejo de continuar me relacionando com o mundo através da partilha e do escambo.