Receba!      “Rua é Lugar de Estar”

  Receba!                        Rua é Lugar de Estar” 

                                                                                         Júlia Palhares 
                                                                                         Júlia Pinheiro
                                                                                         Rafaela Barbosa
                                                                                         Guto Borges 

   Na matéria Flânerie: a rua e as encruzilhadas  nos dispusemos a entender o conceito benjaminiano do flâneur, um operador de compreensão da cidade moderna aclimatado na Paris do século XIX. Flâneur, no francês, significa “errante”, “vadio”, “caminhante” ou “observador”. Flânerie seria portanto o ato de passear, explorar a cidade de maneira não utilitarista, limiar, dentro e fora. Mas a matéria surge de um incômodo: para além do personagem francês, qual seriam os personagens que compõem as ruas das cidades brasileiras? E como eles nos ajudariam a entendê-las?  Tratamos então de figuras tais como o malandro, as pombagiras e exu, personagens que fazem parte da cultura afro-brasileira, e que podem ser entendidas como formadoras das nossas cidades, suas ruas e encruzilhadas, em uma visão popular do nosso país. No decorrer da etapa nós entendemos a partir desses personagens  que a rua é mais que uma mera passagem, mas também é um lugar de estar, e que podemos usá-la para nos expressarmos.  

A partir dessas discussões, especialmente sobre a ideia de oferta, acordamos em fazer uma ação na rua que  foi nomeada:  “Receba!”. A partir do texto “Tudo que o corpo dá” de Luiz Antônio Simas e Luiz Rufino, a ideia foi a de oferecer, ou ofertar,  alimento nas ruas a desconhecidos. A ideia era tentar criar uma interferência  nos protocolos do consumo e da mercantilização excessiva que parece orientar as relações, o uso e até o planejamento das nossas cidades.

Resolvemos fazer a prática na durante o evento CUCA (Festival de cultura ,ciências e artes), na Casa Viva, no dia 12 de novembro. Sendo esta uma mostra dos trabalhos realizados na escola ao longo do ano, a nossa foi a única exposição feita do lado de fora da escola.  Antes de começarmos o percurso, nós nos preparamos: conseguimos emprestado uma bicicleta que faz sucos (ver na foto), e por isso, ofereceríamos suco e, em um saquinho de papel com listras verdes e rosa, como aqueles dos dias de Cosme e Damião, pipoca. Nele carimbamos, um a um, a frase: Receba! Rua, lugar de estar. Estabelecemos  3 paradas (em frente do supermercado Super nosso, um bar e a praça Professor Godoy Betônico). A ação aconteceu no bairro Cidade Jardim, na rua Conde de Linhares e na Avenida Prudente de Morais. Durante o percurso nos deparamos com algumas pessoas que aceitaram com um sorriso no rosto a nossa oferta, mas muitas que não, por não saberem o procedimento dos alimentos e por suporem, em um dos casos, que estariam contaminados.  

Da nossa parte, a ação foi um tanto esclarecedora. Apesar da frustração com o fato de que poucas pessoas aceitaram a nossa oferta, como já era esperado, consideramos que foi interessante perceber que não é tão comum ver pessoas distribuindo coisas de graça na rua, sem segundas intenções: uma oferta sem demanda. Apesar da ação ser incomum, entendemos que algumas pessoas foram excessivamente grosseiras, poderiam ter recusado de outra forma, o que revela ainda essa espécie de território hostil com a diferença – por mais gentil que ela seja -, o que revela a forma como a cidade capitalista funciona: individualista, imprime nas relações estabelecidas nas cidades uma espécie de agressividade e uma dificuldade muito grande em conceber laços não mercantis entre as pessoas.

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