Dia da consciência negra

O dia da Consciência Negra e o combate permanente da luta antirracista 

Tomar para si a responsabilidade de uma educação antirracista exige de toda a comunidade escolar um engajamento permanente, e que articule aspectos curriculares  e ações coletivas. Celebrar datas importantes para a população negra é uma dessas ações, mas não pode ser a única. 

Além de assumir uma perspectiva reflexiva sobre datas importantes como o dia 13 de maio e o dia 20 de novembro, a Casa Viva busca, em caráter transversal, decolonizar suas referências e traz à tona outras perspectivas a respeito da constituição e da manutenção das relações sociais em nosso país. Reconhecendo assim, a importância dos povos originários e diaspóricos e todas as distorções que culminam num racismo estrutural inaceitável.   

Rosa Margarida, em seu Almanaque Pedagógico afro-brasileiro, elenca 8 princípios norteadores para o trato da questão racial no cotidiano escolar.

  1. A questão racial como conteúdo multidisciplinar durante o ano letivo.
  2. Reconhecimento e valorização das coontribuições reais do povo negro à nação brasileira.
  3. A conexão entre as situações de diversidade com a vida cotidiana na sala de aula
  4. Combate às posturas etnocêntricas para a desconstrução de estereótipos e preconceitos atribuídos ao grupo negro
  5. A história do povo negro, a cultura, a situação de sua marginalização e seus reflexos incorporados como conteúdo do currículo escolar.
  6. Extinção do uso de material pedagógico contendo imagens estereotipadas do negro, com repúdio às atitudes preconceituosas e discriminatórias.
  7. Uma maior atenção à expressão verbal escolar cotidiana.
  8. A construção coletiva de alternativas pedagógicas com suporte de recursos didáticos adequados.

    Para além disso, a comunidade escolar reverbera imediatamente situações racistas, posicionado-se veemente contra qualquer tipo de preconceito.

Foi uma situação de injúria racial que mobilizou o bloco Chama Mais 1 para um cortejo nesta data tão significativo do calendário negro. Pais, mães, crianças, professores, amigos se juntaram num recado inquestionável: racistas não passarão.

Abaixo o depoimento de duas pessoas da comunidade, mães de alunos e alunas, uma branca, outra negra, ambas numa luta que é todos!    

“A casa viva é uma escola formada por uma comunidade com valores e princípios éticos, sociais e culturais voltados para a transformação da sociedade mais justa e igualitária. O cortejo do Chama +1, no dia da consciência negra, foi mais um exemplo disso. Ver as crianças segurando faixas com mensagens antirracistas e a emoção nos olhos de cada um, foi a concretização de um projeto de educação que quer transcender a visão utilitarista e conteudista do ensino, visando uma educação questionadora, inclusiva, que sabe analisar os conflitos existentes na sociedade e, com isso, levar a uma transformação onde liberdade, felicidade e fraternidade não sejam apenas palavras, mas sim valores VIVOS. Fazer parte dessa comunidade é um presente. Obrigada casa viva e obrigada Bruno "titio" pela força e coragem de sempre.”

“20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Na escola Casa Viva – Educação e Cultura, celebramos a data com um cortejo maravilhoso, conduzido pelo Bloco Chama Mais1. Em alto e ótimo batuque, as famílias, professores e alunos se juntaram para dizer NÃO AO RACISMO! Há quem ainda não entenda (e até se incomode) com esta data comemorativa. “A gente precisa é de consciência humana”, já ouvi por aí. Isto me faz lembrar de quando estive no Benin, país localizado na costa oeste da África, e pude conhecer, na cidade de Ouidah, um trecho turisticamente apresentado como “A rota dos Escravos”. Este caminho inicia na Praça Chacha, local onde as pessoas escravizadas eram vendidas ou trocadas por dinheiro, objetos, especiarias. Uma vez vendidas, elas iniciavam uma caminhada de quilômetros até a praia em que embarcariam nos navios negreiros. A travessia rumo aos navios negreiros era marcada por “ritos” para que os escravizados se desconectassem da sua terra, das suas raízes e se tornasse mais submissos. Na “Árvore do esquecimento”, os homens davam 9 voltas e as mulheres 7 voltas para iniciar um processo de desorientação e submissão. Em outro ponto, na “Casa Zomachi”, que significa “casa sem luz”, os escravizados ficavam por vários dias, presos, encolhidos, amordaçados, no escuro. Aqueles que sobreviviam embarcariam para uma viagem em que a maioria não voltaria mais. Como escravizados, seriam submetidos a situações de desumanização, desrespeito, humilhação. Seriam tratados como mercadoria, como coisa, como propriedade de alguém. Mas também lutariam, resistiriam, formariam quilombos, protegeriam suas tradições e costumes. Por toda essa história e o legado racista que deixou na nossa sociedade; pelos ensinamentos de luta e resistência, celebremos sim o Dia da Consciência Negra! A palavra consciência vem do latim “conscientia”, que significa conhecimento de algo partilhado com alguém. É a partilha do respeito e da igualdade que evocamos! A partilha da arte, da culinária, da religiosidade, e de toda cultura afro-brasileira que celebramos! É a partilha das conquistas e desafios de se promover uma educação antirracista a cada minuto, a cada atitude, em todos os espaços que defendemos. Assim nos encontramos, nos fortalecemos na resistência de ontem (Valeu Zumbi!), de hoje e de todo dia, contra o racismo que nos segrega. E nos conectamos na defesa daquilo que Boaventura Souza Santos tão lindamente elucidou: do direito à igualdade, quando a diferença nos inferioriza; do direito à diferença, quando a igualdade nos descaracteriza. Então vem e Chama Mais1 para engrossar esse coro com a gente!”

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